As crianças hoje em dia são muito hiperativas.
Na minha infância, as crianças eram mais calmas. Sabe porque? Porque o Merthiolate ardia muito.
As crianças de vez em quando deixavam de fazer merda pensando no Merthiolate. O Merthiolate tinha uma função pedagógica.
O Merthiolate também tinha uma função psicológica. Porque aquele ardor
dava a impressão de que os micróbios estavam sendo mortos. Você
acreditava que de fato estava curando. Mércurio Cromo não ardia, então
dava a sensação que curava menos. Quando o Merthiolate encostava na
ferida, você sentia que ali tinha virado um grande campo de batalha.
Você sentia o ardor da guerra. E quando o ardor passava é porque a gente
tinha conseguido vencer o mal.
Além do fator pedagógico e
psicológico, o Merthiolate também tinha um apelo maternal. Porque a
única coisa capaz de amenizar o sofrimento do Merthiolate eram as
micropartículas de saliva materna. Quando a mãe soprava na ferida, o
sofrimento magicamente reduzia.
Além do fator pedagógico,
psicológico e maternal, o Merthiolate também tinha uma função de
geolocalização. Porque o ardor servia como sinalização se o Merhtiolate
tinha sido de fato colocado no local correto. Se não ardesse, é porque
não colocou direito. O Merthiolate era o GPS da ferida.
Além do
fator pedagógico, psicológico, maternal e de geolocalização, o
Merthiolate também teve um impacto na personalidade das pessoas. O ardor
incrível do Merthiolate moldou a personalidade da geração de crianças
dos anos 80. As crianças desde cedo se acostumaram a ser homem, engolir
choro, aguentar dor..
Hoje em dia.... o Merthiolate não arde mais!
Por isso essa geração emo, tudo cheio de frescura, chora por qualquer coisa…"
Autor: Murilo Gun (stand-up comedy)
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