Por Pedro Ivo Batista, coordenador nacional de organização da Rede Sustentabilidade.
Os
dias 3 a 5 de outubro de 2013 significaram uma sinalização de mudança
na política brasileira que deixou a todos surpresos. Primeiro, na
quinta-feira, dia 3, todos nós, membros da Rede Sustentabilidade, estávamos
confiantes que a justiça acolheria nosso pedido de registro. Para nossa
surpresa e, creio, para a maioria dos brasileiros, tivemos nosso
registro indeferido. A Justiça se fez injusta!
Logo
naquela noite iniciamos um processo de discussão com os membros da
Direção da Rede que estavam em Brasília. Estávamos atônitos e divididos.
A principal diferença era se deveríamos participar institucionalmente
de 2014 ou se deveríamos firmar uma posição política crítica à negação
do registro, mas sem ter uma participação institucional. Como não
chegamos a uma conclusão naquele momento, resolvemos fazer mais
conversas e consultas.
Na
sexta, dia 4, realizamos uma reunião/plenária às 11h, no auditório da
CNTC, com a participação via internet de vários representantes da Rede Sustentabilidade nos
estados. No mesmo dia, fizemos nova reunião e, finalmente, chegamos à
conclusão de que deveríamos propor uma coligação com o PSB. Mesmo sem
ter tido tempo para ouvir toda a militância, a maioria dos membros da
Executiva Nacional da Rede Sustentabilidade considerou que essa proposta
era possível. Assim, na noite de sexta-feira, dia 4, uma pequena
comissão da Rede se reuniu com o Governador Eduardo Campos e o Senador Rodrigo Rolemberg. Foram acordados os seguintes pontos:
1- Faremos
um acordo programático, no qual PSB e Rede definem um projeto político
em comum para país baseado nas diretrizes: avançar as conquistas
econômicas e sociais; democratizar a democracia e defender o desenvolvimento sustentável;
2- O PSB reconhece a Rede Sustentabilidade como partido político e realiza conosco uma Coligação Democrática;
3- Os militantes da Rede Sustentabilidade, inclusive Marina Silva, que desejasem se filiar no PSB, o fariam de forma transitória e independente, como membros da Rede Sustentabilidade.
No momento que conquistarmos o registro legal, os nossos militantes
filiados ao PSB podem se filiar à Rede sem nenhuma retaliação, inclusive
os detentores de mandatos.
4- Tentaremos manter coligações estaduais dos dois partidos, entretanto, onde a realidade tornar impossível essa aliança, a Rede adotará
um posicionamento independente, apoiando a coligação nacional, mas
realizando a tática eleitoral que for adequada ao nosso programa,
valores e princípios.
A Rede Sustentabilidade apoiará também seus militantes que por circunstâncias conjunturais tiveram que se manter em outros partidos.
Todas
essas propostas tiveram que ser adotadas em apenas dois dias, pois
nunca discutimos um plano B, já que tínhamos confiança não registro do
partido. Por isso, compreendo e respeito o posicionamento dos militantes
que discordam do acordo e reclamam da pouca discussão para a decisão.
Dessa forma, espero que possam considerar o pouco tempo que tivemos
somado à falta de canais de participação para decisões rápidas. Acredito
que fizemos o nosso melhor, com reuniões na quinta e na sexta e com
consulta a quem foi possível. Com certeza, não foi uma decisão fácil,
mas como somos um partido que não adota o centralismo democrático,
compreendo os que não concordam com essa coligação. Da mesma forma,
Marina Silva não seria obrigada a aplicar uma posição que ela não
concordasse.
Por que o PSB?
Concordei com a proposta de aliança com o PSB porque
esse partido tem uma trajetória próxima à de Marina Silva. Esteve como
ela e com a grande parte dos que compõem a Rede Sustentabilidade na
mesma trincheira política: a luta pela redemocratização, a construção
dos movimentos sociais e a aliança democrática popular.
O
Partido Socialista Brasileiro é um partido programático e histórico do
campo popular e participou das principais lutas democráticas e
populares. Foi responsável pelo pedido de liminar contra o projeto que
queria excluir a Rede do cenário político em 2014. Evidente que o PSB
tem diferenças na sua composição interna, principalmente nos estados,
mas isso é uma questão que cabe a sua direção resolver. Como não somos
militantes do PSB não nos cabe intervir nesse processo, a não ser
sugerir propostas de soluções e, onde não for adequado estarmos juntos,
manteremos nossa independência estadual e apoiaremos o projeto nacional
da coligação.
Marina Silva não é mais candidata a Presidente?
Essa
é uma pergunta que deve estar pulsando no coração e na mente de muito
de nós, mas é importante recolocar essa questão lembrando que Marina e aRede Sustentabilidade nunca
afirmaram a candidatura presidencial como um fato consumado. Nem Marina
nem a Rede desejavam a antecipação das eleições, preferindo discutir
ideias e propostas para o Brasil, deixando a candidatura como uma
possibilidade.
Na
quinta-feira, dia 3, essa possibilidade foi “sepultada” pelo TSE ao
negar o registro da Rede. Por isso, a coligação com o PSB não poderia
ter sido construída em base da candidatura de Marina Silva e sim em
função de um programa e uma agenda política para o país. Mais uma vez,
contribuímos para construir uma nova política com a postura de não
fazermos um acordo em cima do poder pelo poder. Sabemos que essa atitude
surpreendeu o mundo político e a muitos de nós.
E a Rede Sustentabilidade como fica?
A Rede Sustentabilidade continua
e agora deve se preparar para o momento da legalização, organizando
seus Diretórios, coletivos e núcleos nos estados. Nossos militantes que
estão na condição de pré-candidatos já fizeram suas filiações a outros
partidos no dia 5 de outubro. A maioria se inscreveu no PSB. Porém, por
circunstâncias conjunturais, alguns se filiaram a outras agremiações,
mas todos devem estar comprometidos com o projeto nacional da Rede.
Discutir o Programa de Governo e fortalecer a Coligação Democrática
Acredito que o momento agora, aliado à organização da Rede nos Estados, requer que iniciemos a discussão do futuro programa da Coligação Democrática. A Rede Sustentabilidade tem uma contribuição singular para isso, principalmente para Democratizar a Democracia e para construir o Desenvolvimento Sustentável.
Considerações finais
Acredito que depois do processo de validação das
assinaturas, na qual fomos prejudicados pela burocracia e precariedade
das instituições, e da derrota no TSE, na qual fomos julgados
politicamente e de forma casuística, não poderíamos legitimar esses
revezes e nos afastar da luta política e institucional para mudar o
Brasil.
Assim,
considero que a solução de participar de uma coligação com o PSB foi a
melhor saída para esse momento. Ela possibilitou que a Rede Sustentabilidade participe
do processo eleitoral de 2014, com uma aliança programática coerente
com o passado e o presente da trajetória política de Marina Silva.
Estou
convicto da justeza desse posicionamento. Claro que ele não representa a
totalidade de nossas propostas, mas a Coligação Democrática abrirá
espaço, caso seja vitoriosa, para iniciar um novo processo de mudanças
que hoje está represado pelo bloco governista. Com essa coligação, vamos
lutar para pôr fim aos retrocessos socioambientais e democráticos e
criar as condições de avançarmos rumo ao Desenvolvimento Sustentável.
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