A SUCESSÃO: O MESMO DO MESMO OU A TOADA PODE MUDAR?
Embora muitos achem, como o velho Magalhães Pinto, que a
”política é como nuvem; a gente olha para cima ela está de um jeito,
quando baixa a vista e a levanta outra vez, ela já mudou de formato”,
aparentemente tudo parece demonstrar que a sucessão presidencial não
apresentará novidades e deverá repetir os últimos pleitos: Lula comanda a
festa e o PT se garante por, pelo menos, mais quatro anos de mandato.
Isto porque as pesquisas, até o momento, mostram tal tendências. Os
filhos do Bolsa-Família não demonstram qualquer preocupação com questões
tão elitizadas como superávit primário, déficit da Previdência, o
rombo nas contas externas, os descontroles fiscais, o “pibinho” e uma
inflação que teima em resistir, mesmo com uma taxa de juros básicas nas
alturas. E, como não há democracia a não ser pela maioria votante, a
tendência é que, por enquanto nada “balançará” a fidelidade dos
“eleitores da sobrevivência” a Lula e, por tabela, ao PT.
A Oposição, até agora, não estruturou um discurso capaz de
sensibilizar os eleitores das classes C, D e E e de tirar da comodidade
os que, na classe A, se beneficiam da proximidade com o poder.
Por outro lado, os partidos que poderiam ameaçar a eleição de Dilma,
pelas suas características, forma de atuação e projeto de poder, máxime o
PMDB, não tem qualquer preocupação com a sucessão presidencial, por
falta de compromissos doutrinários e históricos com referido pleito e,
por conseguinte, estão por demais enrredados com a constituição de
maiorias parlamentares, tanto a nível nacional como nos estados, não
sendo tentados a, por alguma circunstância, sequer pensar em romper com
Dilma. É muito mais interessante para tais agremiações, acenar para o
eleitor que, além de acalentar seus sonhos de poder local, estarão de
bem com o poder central ou o poder mais elevado!
Esse diagnóstico fica bem patente quando se examina o caso do Rio de
Janeiro onde os atuais pré-candidatos — Pezão, Lindenberg, Garotinho e
Crivella — são palanques, já declarados, de Dilma, não restando, até
agora, palanque expressivo para Aécio ou Eduardo Campos.
Sabe-se que o PMDB não interfere nas opções que seus diretórios
regionais fazem em termos de eleição presidencial vez que, a estratégia
do partido é eleger o maior número de parlamentares e continuar sendo a
força política indispensável a garantir a governabilidade e a
sustentação parlamentar de qualquer presidente. Aliás, dizia o velho
Tancredo que “ao PMDB não interessava disputar o Reino mas, tão somente,
ser amigo do Rei”!
Assim o velho PMDB das glórias passadas, navega segundo tal
desideratum e, a sua fidelidade a um candidato, quem quer que seja, é
precária e discutível. Embora tenha sido o velho PSD a criar a figura da
“Cristianização”, nos últimos pleitos, desde o início da Nova
República, tem sido o PMDB o partido a fazer uso de tal prática.
Cristianizou aquele que era a sua cara, a sua história e a sua glória
que foi Ulysses Guimarães, quando lhe fez amargar a pior das suas
derrotas, terminando em sexto lugar na disputa presidencial. Até o
esperto do ex-governador de São Paulo, Orestes Quércia, o “carcamano”
como lhe chamava Ulysses, também foi traído pelo partido. E até a musa
do outrora MDB, a bela Rita Camata, candidata a vice de José Serra, foi
vítima do seu próprio partido.
Mas, agora, dizem alguns, comandado pelos homens mais espertos que a
política brasileira produziu nos últimos anos — Renan, Sarney, Henrique
Eduardo Alves, Eunício Oliveira, Eduardo Cunha, Valdyr Raupp, Eduardo
Braga, Romero Jucá, entre outros –, o PMDB ensaia uma insatisfação com a
Presidente, tudo “para inglês ver, com certeza, encenar e enganar a sua
base para que ela acredite que o rompante é para valer. E todos estão
“carecas”de saber que, ao fim e ao cabo, o PMDB vai se manter como
aliado de Dilma, claro, aguardando os tempos e as circunstâncias.
Mas, diriam alguns mais esperançosos, a insatisfação agora não é só
do PMDB, que não recuperou o Ministério da Integração além dos Fereira
Gomes que não conseguiram emplacar Ciro como Ministério da Saúde e,
parece, não conseguirão manter o seu aliado, Ministro Interino da
Integração no cargo. Por outro lado, os demais aliados tem
reivindicações objetivas de cargos e posições, como é o caso do PROS e
do PP, este último pode perder o Ministério das Cidades enquanto os
primeiros não conseguirão fazer o ministro da Integração nem a
Secretaria dos Portos. Aí, a base fica balançada e, pode ocorrer que os
palanques de Dilma fiquem prejudicados.
É claro que o PT, ao agredir, gratuitamente, Eduardo Campos e Marina,
ao desestabilizar Ciro Gomes num trabalho de sapa para impedir o seu
retorno a Esplanada, ao gerar insatisfações mis na base aliada,
contribui para que as coisas fiquem um pouco mais complicadas para
Dilma, levando-a, provavelmente a ter que disputar um segundo turno.
E o que pode mudar a toada da sucessão? O que pode quebrar o marasmo,
o dejavú? Claro que os problemas de conciliação dos interesses
partidários de PMDB e PT, em estados expressivos como o Rio, São Paulo,
Minas, Pernambuco, Bahia, Ceará, Maranhão e Pará, poderão criar sérias
dificuldades para Dilma. Mas, quando Lula ingressar direto na
negociação, ele tem uma ascendência tal sobre o PT que ele pode reverter
situações que o seu partido tornou complicadas.
Porém um outro fato pode mudar as tendências, hoje previsíveis, da
sucessão. É aquele relativo a, se a Oposição, se recriar e conseguir
construir alianças sustentáveis, nos estados, a partir da capacidade de
aproveitar as dissidências e rachas que estão a surgir na base aliada.
Mas também é preciso montar um discurso, não para as elites e para o
poder econômico, pois esse está dado — vide a análise de Cesar Maia —
mas para os filhos do Bolsa Família. E, só há uma maneira de chegar, com
sucesso, a tal resultado. E qual seria?
Fundamentalmente encontrando bases e argumentos para contestar as
três bandeiras básicas da plataforma de Dilma. A primeira é a que diz
respeito ao Bolsa-Família que Aécio, sabiamente, acabou de propor ao
Congresso para que ela seja uma conquista, em definitivo, da sociedade,
transformando-a em lei e, com isso, acabará com o discurso de que
alguém, o adversário do PT, ameaça acabar com tal programa. Ou seja,
além de suplantar a chantagem atual, ainda pode dar tempo para tirar a
falsa paternidade do programa das mãos do PT, haja visto que tal
iniciativa foi do antigo prefeito de Campinas, Magalhães Teixeira, já
falecido.
A segunda bandeira diz respeito ao PRONATEC, o grande programa de
formação de mão de obra técnica que o país tanto carece. Aécio deveria
propor que uma lei específica deverá estabelecer convênio com o sistema
S, transferindo recursos para o mesmo, além de conclamar as escolas
técnicas públicas, sob o comanda das forças armadas e das polícias
militares, para um grande mutirão, com tempo e prazo determinado, para
suprir as carências do crescimento econômico do País.
A terceira bandeira diz respeito ao programa Mais Médicos, onde Aécio
ou Eduardo Campos, deveria, qualquer um deles, antecipar que, proporia
um esquema de estímulos especiais para os médicos brasileiros irem para o
interior, não só com a promessa de equipar as unidades médicas do
essencial e, ampliar as matrículas nas escolas de medicina, odontologia,
farmácia, etc, por todo o país, com ênfase nos municípios e estados que
apresentem uma relação médico por habitante, inferior a média nacional,
aí se tenha uma proposta consistente e sensibilizadora.
Fora a desmontagem de tais bandeiras, a Oposição deverá chamar a
atenção para as chagas ora sofridas, como as secas do nordeste, as
inundações e enchentes no Sul/Sudeste, a violência urbana e o caos
penitenciário, bem como a todas as promessas feitas e não cumpridas, o
que poderá se constituir na complementação do discurso. E, mais que
tudo, vender esperança, mesmo que inconsequente, como fazem populistas e
outros espertos!
Fonte: http://paulolustosa.com/2014/01/17/a-sucessao-o-mesmo-do-mesmo-ou-a-toada-pode-mudar/
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