Com a denominação nada sutil de "Orçamento
impositivo", o PMDB se coloca como sócio majoritário da coligação
governista e quer tornar obrigatório, por meio de uma PEC, o atendimento das
emendas parlamentares individuais ao Orçamento federal.
Na maioria dos casos, o argumento é verdadeiro: as
emendas servem à chantagem no jogo do "só voto se liberar, só libero se
votar". Mas a solução é falsa: submete o planejamento do país ao
"puxa-estica" dos interesses particulares, regionais ou corporativos.
Uma das principais funções do Congresso é aprovar o
Orçamento público. É da natureza do processo que sejam apresentadas emendas
para alterar a alocação dos recursos. Como fazer com que isso seja parte da
regra republicana, e não sua corrosão destrutiva? Boas propostas não faltam,
mas ficam sufocadas no jogo de interesses. O deputado Walter Feldman apresentou
projeto restringindo o poder das emendas individuais, mas, justamente por isso,
não conseguiu de seus colegas as assinaturas necessárias para chegar ao
plenário.
Vivi esse dilema dos dois lados, como senadora por um
Estado que necessita de recursos federais e como ministra, procurando combinar
as emendas parlamentares com os programas do ministério, para que não fossem
projetos isolados de qualquer planejamento. A boa vontade e o diálogo podem
melhorar as coisas, mas o problema estrutural permanece.
Isso diz respeito tanto ao sistema político quanto ao
chamado pacto federativo. O sistema tributário extremamente centralizado coloca
os municípios em situação de mendicância, pois recebem menos de 20% do que é
arrecadado pelo Estado e vivem nos corredores de Brasília de pires na mão. Esse
é o principal insumo da fábrica de emendas parlamentares, que transforma
congressistas em vereadores federais.
Há também o faz de conta orçamentário, com as receitas
sobrestimadas, para que possam caber todas as demandas de ministérios, Estados,
prefeituras, parlamentares, empresas, lobbies de todo tipo. Todos sabem que não
será possível realizar todos os gastos, mas o importante é "abrir a
janela" para depois negociar. O resultado é a insatisfação de muitos, para
a alegria de poucos.
É necessário mudar as regras, mas, antes de pensar em
algo impositivo, seria bom tomar uma pouco de Maracugina, para diminuir a
ansiedade que antecede o ano eleitoral.
A situação no país não permite irresponsabilidades e o
governo deve saber que a permissividade com os recursos públicos, se é objeto
de desejo para as próximas eleições, já está na mira das novas gerações. Todo
mundo está vendo tudo e, no final, quem sabe não trocaremos o impositivo
político pelo imperativo ético de regras que sejam mais compatíveis com esse
olhar novo, atento, exigente, comprometido.
09/08/2013
Marina Silva |
Folha.com | Marina Silva | BR
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