Antes da rapaziada encher as ruas,
o PSDB de Aécio Neves e o PSB de Eduardo Campos enxergavam em Marina Silva uma
bela alternativa de vice. Hoje, se Aécio e Eduardo se oferecessem para vice de
uma chapa encabeçada por Marina, ela talvez desdenhasse. O último Datafolhaconfirmou o que as
pesquisas anteriores já haviam insinuado: Marina tornou-se uma presidenciável
mais competitiva do que os outros adversários de Dilma Rousseff.
Para se consolidar na segunda posição, Marina recebe a ajuda de dois
cabos eleitorais inesperados: PSDB e PT. Metidos numa gincana para ver quem
joga mais lama no outro, tucanos e petistas levam parte do eleitorado irritado
com os políticos a ver em Marina uma espécie de heroína da resistência. A
imagem é fantasiosa. Mas, em tempos de mensalão e de Siemens, um pedaço da
plateia parece preferir o improvável a ter que optar entre o lamentável e o
impensável.
De acordo com o Datafolha, Dilma recuperou um naco do prejuízo que
contabilizara nas pegadas dos protestos de junho. Evoluiu de 30% para 35%.
Marina engordou de 23% para 26%. Aécio foi lipoaspirado de 17% para 13%. E
Eduardo manteve praticamente o mesmo peso, oscilando de 7% para 8%. Nesse
cenário, se a eleição fosse hoje, Marina disputaria a poltrona de presidente da
República num segundo turno contra Dilma.
Os mais céticos duvidam dessa possibilidade sob o argumento de que falta
a Marina estrutura política. Numa fase em que a garotada grita na rua que “o
povo unido não precisa de partido”, ter estrutura pode ser desvantajoso. Marina
é a candidata do paradoxo. Até aqui, cresceu sem cargos, sem partido e sem o
espaço generoso que seus contendores recebem dos meios de comunicação. Enquanto
tenta colocar em pé a sua # Rede, Marina surfa numa onda que engolfa todos os
conceitos, revirando-os.
Na noite de sexta-feira, discursando para militantes petistas em Bauru,
Lula disse que o PT “não tem medo de conversar com o povo na rua.” O que o
partido precisa temer, ele acrescentou, são “aqueles que começam a negar a
política.” Chamou de “analfabetos” os jovens que dizem “eu não gosto de
política, não gosto de nenhum partido político, não gosto de sindicato.”
Lula lecionou: “Temos que dizer, alto e bom som: fora da política não
tem saída. Se a gente quiser pegar dois exemplos, a gente pega Hitler e
Mussolini.” Tolice. As ruas pedem respeito e decência, não nazismo e fascismo.
Há cadáveres demais no noticiário. Insepultos, produzem um fedor lancinante.
Não bastasse a insatisfação generalizada com a precariedade dos serviços
públicos, desapareceu da cena política brasileira a presunção de superioridade
moral. As legendas que polarizam a disputa integraram-se à perversão comum a
todas as siglas. É nessa onda que Marina surfa.
O excesso de lodo potencializa a subversão dos conceitos. Eleição vira
loteria sem prêmio. Voto transforma-se num equívoco renovado a cada quatro
anos. Partidos convertem-se em organizações com fins lucrativos. Coligações
viram conchavos entre culpados inocentes e inocentes culpados. Democracia passa
a ser um regime que saiu pelo ladrão.
O PSDB já carregava nas costas Eduardo Azeredo e o mensalão de Minas,
ainda pendente de julgamento no STF. Com a delação da Simens, a legenda
presidida por Aécio Neves foi empurrada para uma defensiva que tende a perdurar
até 2014. O PT optou por acalentar os seus mensaleiros. Com isso, amarrou a sua
sorte ao julgamento do escândalo.
Se os condenados forem para
a cadeia, a legenda será presa com eles. Se o STF revogar as condenações por
formação de quadrilha, livrando José Dirceu e Cia. da cana dura, as ruas
brasileiras podem ficar pequenas para tanta gente. Nessa hipótese, convém
dedicar atenção redobrada a Marina Silva. Em 2010, ela arrastou 19 milhões de
votos e empurrou o tucano José Serra para o segundo turno. Agora, aproxima-se
dos 30% de intenções de voto dizendo coisas definitivas sem definir muito bem
as coisas.
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