O artigo de hoje da Marina na FOLHA de São Paulo
02/08/2013
Marina Silva | Folha.com | Marina Silva| BR
Os assuntos
são variados, pode ser o aumento do seguro-desemprego ou a convocação de uma
constituinte para a reforma política, medidas para diminuir a precariedade na
saúde ou a liberação de recursos para a Copa. A manchete é que não muda, só
nesta semana há pelo menos dez assim, nos jornais e sites de notícias: governo
recua, governo volta atrás, governo suspende decisão, governo não confirma etc.
Juntem-se a
isso as promessas não cumpridas ou os resultados muito aquém do anunciado, como
baixar o preço da cesta básica ou da tarifa de energia; as tentativas de
enganar a opinião pública, como nas mudanças do Código Florestal, em que
atrasos são anunciados como avanços; e os anúncios faz de conta, como a
bombástica declaração em rede nacional de que a miséria no Brasil acabou.
O que temos?
Falta de rumo disfarçada com marketing.
Nos anos 90,
os programas de auditório de domingo entregaram seus roteiros à aferição da
audiência: "Está caindo, então encerra a entrevista e entra com o show
musical, rápido, para aproveitar o intervalo comercial do concorrente".
Dava certo na televisão. Dá errado no governo.
O anúncio de
uma decisão não é a decisão. Pode iludir por algum tempo, mas não melhora o
transporte, a saúde, a educação, a segurança, e, assim, a insatisfação vai se
acumulando. Pior ainda é o recuo, a indefinição, o desmentido, o dito pelo não
dito. Não se gerencia um país com balões de ensaio.
Insisto: o
Brasil precisa definir uma agenda estratégica, em que as grandes reformas
estejam articuladas com definições sociais e econômicas. É necessário
redirecionar o desenvolvimento em parâmetros sustentáveis, colocar a economia
na era das grandes mudanças culturais e ambientais, atualizar o sistema
político e a gestão pública, ampliar a democracia e a participação cidadã, usar
as novas tecnologias para o debate público e as decisões.
A mudança se
faz com uma agenda democraticamente construída, com a participação não só dos
que já se acostumaram a assentir, em cujos temas se trabalha buscando consensos
públicos (bem diferente dos acordos de bastidores). A outra opção é a
estagnação, mal disfarçada pela marquetagem. Infelizmente, esse é o rumo que
hoje predomina. Uma governabilidade de coalizão, baseada na distribuição de
nacos do Estado, captura as políticas públicas e sequestra as esperanças da
sociedade. Para essa estagnação estão sendo arrastadas as instituições e todo o
sistema político.
No sentimento
da população, a agenda já está se definindo. Sem mudanças políticas e
institucionais, o avanço será mais demorado e com maiores riscos de rupturas e
conflitos, mas acontecerá, porque seu tempo chegou. E, nas prioridades
anunciadas pelas ruas, não há volta atrás.
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